quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sobre sair do armário

E chegamos ao segundo ponto dos tópicos que o site me propôs. "Você já saiu do armário para alguém e como foi a experiência?". Tenho que começar respondendo que eu nunca achei que o termo "sair do armário" se aplicava para asexuais. Eu acreditava (até tentar falar com alguém pela primeira vez) que eu não sofreria preconceito porque não estava falando sobre fazer parte de algumas das minorias que sofrem preconceito por suas orientações sexuais. Para mim, eu estava apenas dizendo "oi, meu nome é Roque e eu não faço sexo".

    Tudo mudou depois da primeira conversa, ou melhor, antes dela. Eu não sabia com quem falar, nem como falar nem por que falar. Comecei a achar que era melhor deixar as pessoas imaginarem que eu fazia sexo como todo mundo e seguir com minha vida. E foi o que eu fiz por muito tempo. Deixei as pessoas imaginarem. Aí veio a necessidade de falar e eu escolhi um dos meus grandes amigos na época, Bruno*. Foi uma catástrofe. Bruno era gay e acreditava que eu estava querendo dizer pra ele que também era gay mas não estava seguro o suficiente para usar essas palavras. Bruno cometeu um erro grave naquela conversa, um erro que acabou custando nossa amizade. Ele foi incompreensivo, continuava afirmando que eu não devia ter medo de ser gay, que ele já sabia que uma hora ou outra eu ia sair do armário e que meu relacionamento com Fernanda* era apenas fachada. Eu só conseguia chorar. Tinha juntado todas as forças que eu tinha para chegar para pessoa que eu mais confiava e dizer "eu sou asexual" e aquela pessoa tinha simplesmente pisado em tudo que eu disse e tentado enfiar uma homosexualidade goela a dentro. Eu sou panromantico, o que significa que sim, eu ficava e fico com homens. Mas não era(e não sou) gay. Eu sou asexual. Meu melhor amigo não conseguia entender (nem aceitar) o que eu era. Eu não sabia, mas aquela seria a primeira vez que eu sofreria preconceito pela minha orientação sexual.
  
   À partir desse momento foi ficando mais difícil. Eu comecei a ter medo de falar pras pessoas e comecei a simplesmente passar as tardes conversando  apenas com xs asexuais que eu conhecia pela internet. Parei de sair de casa e evitava me relacionar com pessoas porque imaginava que em algum momento elas iam ter expectativas de sexo e eu ia ter que explicar tudo e a pessoa não ia entender e mais uma vez ia fazer graça da minha cara ou ia achar que eu não gosto dela e ia vitimizar a situação (eu passei por todas essas experiências mais pra frente) e acabei me trancando cada vez mais.

   Finalmente aconteceu de encontrar pessoas com quem eu acreditei que poderia me abrir novamente sobre o tema. Eram alguns amigos que estavam comigo o tempo todo. Bem, o resultado não foi exatamente como eu queria que tivesse sido, na verdade foi bem pior do que eu achei que fosse ser (novamente) só que o resultado foi inesperado. Elxs fizeram chacota. Duvidaram da minha asexualidade, colocaram ela no mesmo patamar do celibato, ficaram querendo apostar "quanto tempo eu ficaria assim", "até quando eu ia aguentar", ou tentando encontrar explicações que me desmentissem minha fala.

  Esse foi o cenário no qual eu saí do armário as primeiras vezes. Quando eu me coloco como agênero a coisa vai ainda mais fundo, porque as pessoas olham pra mim e me reconhecem como homem. Ora, é óbvio. Eu sou alto, sou negro, sou "parrudo" , barbudo. Não é um "brinco feminino", um colar ou uma atitude sutil que vai mudar isso e é claro que, tendo todas essas características, eu só posso ser homem. Alguns membros da comunidade queer acham que estou fazendo piada quando afirmo minha identidade de gênero. Uma vez tive que sair chorando de uma palestra com uma trans porque, após ter feito uma pergunta sobre a dificuldade para conseguir hormônios ela me respondeu algo que começou com "você, enquanto homem..." e eu não consegui continuar ouvindo a resposta apenas levantei porque não queria chorar em público e saí da sala. No final da palestra eu tentei falar com ela sobre o porquê eu não tinha ficado pra ouvir até o final e ela achou que eu estava fazendo piada do discurso dela.

  Quando eu saí do armário para o meu pai foi tranquilo. Ele recebeu tudo muito bem, mas eu não falei sobre minha orientação romântica. Ainda não tenho coragem e acredito que nunca terei. Apenas disse que era asexual e o que isso significava, ele apenas disse que eu era 'muito corajoso de assumir uma postura que é completamente diferente da maioria'... Semanas atrás tentei falar sobre minha identidade de gênero e as coisas começaram a ficar confusas demais e ele começou a desviar assuntos, o que me leva a acreditar que ele também não quer saber. Minha mãe é outra história. Ela me viu com "brincos femininos" e teve um ataque. Eu tive que tirar os brincos para comprimentá-la e ela ainda assim ficou com uma cara esquisita, como se tivesse visto uma aberração. Decidi então que não falaria mais nada sobre o tema com eles e que tentaria viver o mais neutro possível na presença deles ( o que é muito, mas muito longe do que me agradaria como pessoa mas é impossível conseguir diálogo com a minha mãe nesse aspecto e eu acho mais saudável pra nossa relação fingir o máximo ser o que ela quer que eu seja do que entrar em brigas desnecessárias. Eu não vou deixar de ser quem eu sou e ela não vai mudar a opinião dela sobre o mundo, então deixemos como está).

  Sobre sair do armário em relacionamentos... Esse é um tema que já me rendeu histórias muito engraçadas (para não dizer tristes) e eu gostaria de falar sobre esses casos separadamente, caso a caso, num futuro próximo.

 bjo na alma ;*

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